Em meio aos espigões que marcam a paisagem do Espinheiro, a Rua Gomes Pacheco é um pequeno oásis de calmaria e resistência com suas simpáticas casas, cada vez mais raras no Recife. É no número 426 dessa rua que a jornalista Aline Feitosa resolveu plantar a semente da revolução na qual acredita.
Moradora do local há 17 anos, desde o ano passado ela vem abrindo as portas de sua casa, batizada de Pequeno Latifúndio, para amigos (e amigos dos amigos) poderem desfrutar de boa música, boa comida e boa conversa.
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O hábito de receber em casa faz parte da vida de Aline desde que ela se mudou para esse local. Jornalista e produtora na área de música há mais de 20 anos, todas as quartas-feiras, e eventualmente, nos fins de semana, ela transforma o quintal de sua casa em palco para artistas autorais.
“Trabalho com música há muito tempo e sempre fui muito festeira. Numa dessas, alguns amigos, entre eles Juliano Holanda, começaram a me instigar pra gente fazer alguma coisa aqui”, explica.
Foi um problema de coluna que a deixou de molho em casa durante um bom tempo que fez Aline colocar em prática o pedido dos amigos. “Não estava podendo sair e já não aguentava mais ficar em casa. Aí resolvi abrir pra receber aqui alguns artistas que faziam música autoral”, lembra.

Nomes como Almério, Isaar, Tibério Azul, Lucas Santtana, Victor Camarote, Isadora Melo, Lucas dos Prazeres já passaram pelo Pequeno Latifúndio. As apresentações são sempre especiais, em formato de pocket-show, mais intimista.
Para Aline, em tempos de falência das macropolíticas, lugares de encontro como o Pequeno Latifúndio que portam uma potência transformadora. “A palavra que eu gosto de usar para definir esse espaço é micropolítica. As discussões macro estão muito acaloradas, polarizadas e claramente não estão funcionando. Por isso eu acho que são de pequenas reuniões que podem surgir grandes forças”, observa.
O Pequeno Latifúndio recebe no máximo 50 pessoas e o esquema é cedo e sentado. “Começa cedinho e terminamos sempre às 22h para não incomodar a vizinhança”. Não tem mesa, mas ela tem 25 cadeiras e as pessoas vão chegando e se acomodando da forma que acham mais confortável. A ideia é se sentir em casa mesmo.
Além das apresentações musicais, sempre rola uma roda de conversas e comidinhas preparadas pela própria Aline. “Cozinho para os convidados os pratos que eu e meus filhos gostamos de comer em casa”, diz.
Até por ser uma residência, o público é seleto. Normalmente quem aparece por lá são amigos que levam outros amigos, familiares dela ou dos artistas. No entanto, o Pequeno Latifúndio está aberto para todos. Ela cobra um valor simbólico (normalmente entre R$ 15 e R$ 20) para custear as despesas. “80% do que a gente arrecada vai pro artista porque minha proposta não é ganhar dinheiro”, coloca.
Pequeno Arraial

Neste mês de junho, excepcionalmente o Pequeno Latifúndio estará aberto todas as quartas e sábados recebendo artistas para apresentações com uma pegada junina.
Nesta quarta (06), rola a abertura do Pequeno Arraial, que já é um evento tradicional na rua. “Nos juntamos com dois vizinhos, acendemos fogueira e fazemos a festa na rua mesmo. É massa que vários outros vizinhos participam, o pessoal dos prédios vem também”, conta.
Nas quartas, o Pequeno Latifúndio começa a receber às 17h e a entrada é R$ 20. Nos sábados, o quintal abre às 16h e o valor é R$ 15 (até às 17h) e R$ 20 (após às 17h).
?Pequeno Latifúndio
?Rua Gomes Pacheco, 426, Espinheiro
Insta: @pequenolatifundio