A boneca transmigrou o vestido arqueado
E se desfez das anáguas
Com gestos delicados, colocou-as no chão
O bêbado ultrapassou os muros
Prontificou-se a colocar o peito à frente de facas
Esperou o exaurir da palavra, o brilhar de cada canção
Chorou espanto
Segurou estrofes
Caiu no chão
Mas libertou-se da angústia maldita
Da expressão sofrida
E arborizou-se no fundo da contramão
Serviu como guia, apontou para porta errada
E acertou o caminho
Seguiu a multidão
Eita! Que não teve pé, nem percalço
Não teve morto nem arrasto
Teve o pulo dos palhaços felizes
O passista de multicores
Os fujões das marcas de uma vida sem verniz
O bloco passou
Foi sete sem nada
Teve flor, miçanga, jangada
O bloco passou
A certo ponto, agachei-me
Por entre os poros
Por entre o ponto
Centralizado abaixo das antigas anáguas
Da antiga boneca
Agora moleca
E funguei
Ah funguei
Inebriado
Vi Ana
Vi Amanda
Joana
Fabiana
Vi Sandra
Surpreendi-me quando vi até Anastácia
Mas o bloco passou
Passou das 5 pontas
Dos 4 cantos
Do Recife encantado mesmo nesses tempos de crise
E seguiu
Chegando a parcimônia
A lentidão levitada
Das quartas-feiras de sangue seco e preguiça
E confirmou mais uma vez a liderança da melhor indústria nacional:
Carnaval do Brasil Sociedade Anônima!
Existe o Recife lá dentro, ou não, como diria Caetano Veloso
Diego Garcez é sobretudo poeta, mas encontrou na crônica uma forma de diálogo mais palatável para o mundo das pernas aceleradas. É formado em relações internacionais, empreendedor e entusiasta do Porto Digital, corredor nas horas vagas e pai em tempo absolutamente integral. Facebook: Diego Garcez | Instagram: @garcezdiego
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