Uma delas é a parceria que a VJ Mary Gatis firmou com o iluminador cênico Roberto Riegert, ambos moradores do bairro. Abreviação de video jockey, VJ é o profissional responsável pelas projeções de imagens sincronizadas com a música em festas, shows e espetáculos, o que facilitou a união de Mary com Riegert em projetos artísticos que envolvem luz e projeção.

A parceria entre Mary e Riegert deu tão certo que alçou voos mais altos, fora do país. O trabalho deles poderá ser visto na cidade de Amarante, em Portugal, onde os dois irão participar do MIMO Festival, que acontece nesta sexta (21) até o domingo (23). A parceria vai se repetir na edição da MIMO em Olinda, que acontece de 17 a 19 de novembro.
Riegert é responsável pela iluminação cênica da MIMO desde 2005. Já Mary Gatis faz sua estreia no festival, levando toda a bagagem que adquiriu como VJ em espetáculos de teatro e shows no Recife, além dos projetos musicais Frevotron, Banda Sonora e Banda Sonora Duet, com DJ Dolores e Yuri Queiroga.
“Minha pesquisa visual pra essa edição vai em cima de colagens iconográficas da região de cada banda que se apresenta no festival e também parcerias de videodança com bailarinos locais Recife”, explica a VJ.

“O fato de morarmos em Casa Forte fez com que a gente se aproximasse e trabalhasse no mesmo circuito. Acaba que a gente trabalha muito junto porque moramos muito próximo um do outro”, conta Mary, que nasceu e cresceu no Poço da Panela.
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Já Riegert é gaúcho de Porto Alegre e se apaixonou pelo Recife nos anos 1980, quando veio trabalhar como iluminador cênico da filial do Circo Voador no Cais do Apolo, no Centro do Recife. O Circo encerrou suas atividades, e Riegert precisou voltar pro Rio de Janeiro, onde morava na época.
Chegou a morar um tempo em Barcelona e Buenos Aires, mas foi no Recife que encontrou motivação para conciliar trabalho e interesses pessoais há 23 anos.
Hoje ele mantém sua própria empresa de projetos de iluminação artística, a Casa de Luz, e segue trabalhando com artistas locais como Alceu Valença e em festivais pernambucanos como a MIMO Festival de Música. Durante 11 anos, trabalhou com Naná Vasconcelos até a morte do percussionista, em março de 2016.

“No Poço da Panela, comecei a encontrar pessoas que são emergentes e influentes na área artística com as quais me identifiquei muito, como Mary Gatis, Gabriel Furtado e pessoas do setor de audiovisual. Eventualmente, consigo colocá-los em trabalhos onde estou, recomendando o trabalho deles pra complementar o meu ou sendo recomendado por eles”, conta.
Bairrismo que inspira
Para Riegert e Mary, a vida no Poço da Panela influencia diretamente o seu fazer artístico. “O Poço é um super lugar que me inspira. Às vezes eu tô precisando dele, aí saio de casa, dou uma voltinha nas ruas, vou em Seu Vital, tomo aquele café doce que ele serve de tarde, olho o movimento, converso com um e com outro, respiro e volto pra casa pra trabalhar. Não consigo ficar muito tempo longe dessa interação com o bairro”, diz a VJ, que desde muito nova frequenta todos os cantinhos do bairro.
“Eu tinha 18 anos quando comecei a frequentar a boemia do Poço, no bar de Seu Vital em frente à igreja. Até hoje, nos dias de casamento, é muito engraçado porque a boemia fica esperando a noiva entrar e sair pra aplaudir, cantar, é muito bacana. Os artistas sempre fizeram parte da minha vida”, conta Mary, que foi assistente de ateliê do artista plástico e ex-morador do bairro Jorge Alberto, já falecido.
Confira vídeo de Mary Gatis para o projeto musical Frevotron, formado por Maestro Spok, DJ Dolores e Yuri Queiroga:
“As pessoas tiram onda comigo, que eu saio do Poço, mas o Poço não sai de mim. Recentemente, tive a experiência de alugar um apartamento na Madalena e foi muito difícil porque sou acostumada com Casa Forte, que é um lugar que tem vida de bairro. Um lugar onde as pessoas ainda andam na rua, você conhece seus vizinhos, respira bem.”
Já Riegert se mudou para os Aflitos em 2013, mas não demorou pra retornar pro bairro que lhe adotou no Recife. “Acabei vindo para o Poço da Panela e não pretendo sair daqui nem tão cedo. Só saio pra residir na Europa, mas de todo jeito vou manter uma base aqui no Poço porque me identifico com o bairro.”

“Minha ligação com o Poço é muito sentimental, me traz recordações da minha infância e adolescência, pois tem um ritmo muito parecido com os bairros onde morei em Porto Alegre. O Poço é o bairro mais sulista do Recife pela arborização, pelo conjunto arquitetônico, aparência física, pela paz, pelo ritmo do bairro”, diz o iluminador.