Eu me mudei poucas semanas antes do São João. E foi exatamente no feriado de São João que eu recebi os primeiros amigos aqui em casa. O plano era simples: jogar qualquer jogo de tabuleiro e aproveitar o dia de folga (como somos todos professores, essa época do ano sempre envolve corrigir provas, qualquer calma é bem-vinda).
Eu e meu namorado não tínhamos começado oficialmente nossas caminhadas, tudo ainda era um tanto desconhecido, meu quarto – e minha vida – ainda eram um amontoado de caixas no canto.
E, como meu pensamento ainda não havia se mudado por completo, pensei que as coisas estariam abertas, o mundo estaria funcionando (como era o que acontecia na minha antiga vizinhança, famosa por uma padaria que era assaltada e, mesmo assim, reabria meia hora depois).
Combinamos de levar nossos amigos ao Paris 8 (que eu frequentava bem antes de pensar em me mudar).
Fechado.
– Vamos passar no VerdFrut e comprar alguma coisa?
Fechado.
– A gente podia levar eles na Tocadisco.
Fechado.
O mundo – ou melhor, o bairro das Graças – não vivia no mesmo mundo que eu. Minha rua, sempre caótica, barulhenta, sempre engarrafada… estava quieta. Acabamos indo ao Burgomestre (sempre posso contar com o Burgomestre!), que parecia um oásis no meio das portas fechadas.
Já nesse feriado de Carnaval, eu e o bairro já estávamos na mesma sintonia. O máximo de barulho eram as crianças pulando na piscina do prédio ao lado. A eventual ambulância. Eu aproveitei esses dias de silêncio. Aproveitei ao ponto de sentir até falta do caos. Mas amanhã é um novo dia…
Heloiza Montenegro, novata no bairro, pode ser encontrada com a cabeça enfiada num livro, dormindo em um ônibus ou tomando chocolate quente. Ou escrevendo para o seu blog Em 365 dias.