“De avião, não. Eu odeio avião. São duas coisas que eu odeio, avião e uma cantora de axé”, que não será nomeada nesse post.
Eu ouvi essa frase ontem, numa mesa ao lado da minha na Vila Amizade. E pensei em sons. Em todos os sons novos que eu ouvi por aqui.
Na minha vida pré-Graças, os sons eram diferentes: eu morava ao lado de uma praça, onde eu ouvia crianças gritando, bebês chorando, missas que mais pareciam performances de arte contemporânea.
A primeira coisa com que aprendi a conviver aqui foi com o som das ambulâncias. E descobri que não existe hora para elas. Tem as ambulâncias com o barulho clássico. Tem outras que parecem uma rave. Uma rave no domingo de manhã.
Ouvi também um “boa noite” (acompanhado de um sorriso simpático), enquanto dava minhas clássicas e costumeiras caminhadas na Rosa e Silva.
Outro som clássico é o de crianças na escola. Ou nos restaurantes perto da escola. Ir ao Wayne’s ao meio-dia é quase como visitar um refeitório escolar.
As buzinas de carro nos horários de pico, a piscina do prédio vizinho nos fins de semana, os bares com música ao vivo, as festas com as mesmas trilhas sonoras e que parecem acontecer dentro da minha casa.
“Eu acho que você devia escolher o Pikachu”, por exemplo, foi ouvida na Meio do Mundo, na Rua do Futuro, enquanto tomava um chocolate quente ao lado de um amigo.

Mas o meu favorito é o sino.
Um dia desses, enquanto minha mãe bordava e eu assistia algum desenho, minha mãe perguntou a hora. Quase imediatamente, eu ouvi o sino. Esse som me levou aos espaços mais distantes, memórias da época do colégio (de freiras, como é possível de se imaginar). O sino me conecta com o bairro, comigo mesma e com aquilo que eu nem lembrava.
E, no fim das contas, eram 17h.
Heloiza Montenegro, novata no bairro, pode ser encontrada com a cabeça enfiada num livro, dormindo em um ônibus ou tomando chocolate quente. Ou escrevendo para o seu blog Em 365 dias.