Começou um pouco antes de me mudar e, para ser sincera, eu nem percebi.
Quem percebeu foi minha mãe. Era o primeiro apartamento que a gente visitava, eu nem sabia direito o que procurar (só sabia que queria morar naquele lugar… o que acabou nem acontecendo).
Saindo do apartamento, resolvi levar mainha ao Paris 8 (foto em destaque). Eu tinha alguns minutos entre as aulas, nós duas tínhamos algumas decisões a tomar.
6 lugares onde você pode me encontrar nas Graças e arredores
Já entrei sentando e conversando com todo mundo. Perguntaram de mim. “Seu namorado gostou da tortinha?”. “Seu aluno gostou do brigadeiro?”.
Respondi, sentei, apresentei minha mãe.
– Mas você já conhece todo mundo…
Em janeiro, quando fui comemorar meu aniversário n’A Caverna, já sabiam onde eu morava.
– Te vi saindo de lá de manhã cedo, quando fui tomar café da manhã.
Ou – antes do Wang fechar de noite – o garçom que só perguntou nosso pedido nas primeiras três semanas. Depois, com duas ou três palavras, ele entendia tudo.
– Seu namorado não vem hoje? Tá tudo bem?
Esse foi o meu porteiro, preocupado com o “fim” do meu relacionamento. O rosto conhecido não era mais só o meu.
Ou quando fui na Drogasil e fui reconhecida como a menina da câmera amarela. Esse comentário veio seguido de um sorriso e um “tudo bem”?
Quando dei por mim, todo mundo já sabia quem eu era. Meus pedidos eram “o de sempre”. Minha rotina era parte da rotina de outras pessoas. O garçom não sabe meu nome – e eu mesma nem sei o dele, eu sempre esqueço os nomes das pessoas, garçons ou não – mas sabe o que eu gosto, já sabe se minha mesa tá livre ou não. Minha mesa. Minha rotina. Meu bairro.
Heloiza Montenegro, novata no bairro, pode ser encontrada com a cabeça enfiada num livro, dormindo em um ônibus ou tomando chocolate quente. Ou escrevendo para o seu blog Em 365 dias.
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