Imagine viver em uma comunidade onde grande parte dos seus amigos de infância foram assassinados? O filme Ele era meu filho “é mais do que um documentário, é um direito de resposta” lançado pelo Coletivo Força Tururu para chamar atenção a uma realidade tão absurda e gritante que qualquer palavra mal escolhida aqui corre o risco de torná-la ainda mais banal.
“Muitos jovens são assassinados no Brasil, muitos deles viram estatísticas e, às vezes, a única versão que se tem de seus homicídios é o da mídia e da polícia”, explica André Fidelis, membro do Força Tururu, coletivo de comunicação criado em 2008 na comunidade do Tururu (Janga, Paulista-PE).

Ele era meu filho conta o lado da história que as narrativas hegemônicas tanto ignoram. “O documentário estabelece a ponte do direito de resposta, de sabermos quem são esses jovens e suas histórias, informações que não saberíamos porque o jornalismo policialesco é seletivo”, esclarece André, que literalmente já perdeu as contas de quantos amigos foram assassinados.

“Dizia pra mim que quando eu ficar velhinha, ele ia cuidar de mim”, conta Isabel Cristina, mãe de José Henrique, em trecho do filme. Ele era meu filho é sensível e urgente, um diálogo sincero e carinhoso com mães e pai que tiveram filhos assassinados e nunca tiveram a oportunidade de serem escutados.
A obra busca trazer humanidade para a história desses jovens que carregaram em vida, e também depois da morte, o peso do julgamento de uma parcela da sociedade que se mostra higienista, preconceituosa e racista.
Extermínio
Segundo a Anistia Internacional, movimento global em prol dos Direitos Humanos, dos 56 mil homicídios que ocorrem por ano no Brasil, mais da metade são entre os jovens. E dos que morrem, 77% são negros.
Segundo a carta Medidas para o enfrentamento ao extermínio da juventude negra em Pernambuco, assinada por 11 organizações, coletivos, fóruns e movimentos sociais pernambucanos, o Estado de Pernambuco aparece em 3° lugar como local de maior risco para jovens negros de 12 a 29 anos, em estudo divulgado pela Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), do Governo Federal.