Final do passado o Bar Aritana completou a marca dos 40 anos. Foi em um 22 de dezembro que Dona Jura (67) e o já falecido marido Givaldo, abriram o trailer que um dia se tornaria um dos bares mais antigos de Olinda. Para rememorar um pouco dessa história, tive o privilégio de estar frente a frente com Dona Jura, a abelha-rainha soberana dessa história.
“A polícia veio aqui e saiu arrancando tudo, tiraram fios, mesas e cadeiras, expulsaram clientes”, conta Dona Jura ao lembrar que Batata, aquele mesmo do bloco carnavalesco da quarta-feira de cinzas, saiu em defesa.”Ele entrou no trailer comigo e disse que só tirariam a gente lá de dentro sem vida”. A comerciante foi arrastada brutalmente de dentro do local.
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Estamos na década de 1980 e o estabelecimento era uma lanchonete ainda sem nome que ficava localizada na frente do tradicional ponto que hoje é o Bar Aritana. O argumento para tamanha violência e desrespeito? Ocupação indevida do espaço público. A comerciante afirma que tinha documento comprovando a legalidade.

A falta de diálogo do poder público parece não ter triscado na personalidade amável de Dona Jura, senhora de fé católica, guerreira do tempo, e que continuou na resistência vendendo cigarros, biscoitos e refrigerantes em um isopor na mesma Estação Maxambomba. “Os clientes antigos passavam de longe e não paravam, achavam que íamos pedir dinheiro”, relembra.
Sem precisar da ajuda de ninguém, a não ser de um amigo que a apoiou nos estudos da filha, a comerciante conseguiu o ponto onde hoje funciona o Bar Aritana. “Fui na prefeitura e pedi a autorização pra abrir uma lanchonete e com o tempo fui vendendo umas cervejinhas aqui e ali”, comenta com um sorriso de quem sabe muito se virar na vida.

Era o recomeço do velho Aritana, bar acolhedor que serve boa comida e cerveja gelada. Um verdadeiro amigo quando a saideira precisa se prolongar. O lugar do caldinho de cebola e do arrumadinho de bacalhau. Hoje quem batalha diariamente para manter o espaço vivo é Juci, filha de Dona Jura e responsável pelo batismo do estabelecimento.
A origem do nome
Nos tempos do trailer o estabelecimento de Dona Jura era conhecido informalmente como “O suco”. Eis que um dia, quando a comerciante decidiu passar a vender cervejas, foi perguntada pelo distribuidor da bebida qual era o nome da lanchonete.
“Nessa hora minha filha Juci chegou correndo e dizendo que a novela tinha começado. Aproveitei a deixa e respondi Aritana” relembra Dona Jura.
O acaso quis que o nome do bar resgatasse uma história de resistência indígena, em que o personagem Aritana, na telenovela da TV Tupi, lutava pela sobrevivência da sua tribo e da sua terra.
Bar Aritana
Rua do Sol, 9, Carmo – Olinda/PE (Largo do Maxambomba)
Aberto de terça a domingo, das 17h até o último cliente sair
[Matéria publicada no dia 22/12/2017 e atualizada em 01/08/2018]