“Um espaço para quem quer fazer um Mundo Novo.” Essa é a definição da casa multicultural que foi referência para os amantes do reggae e da cena underground no bairro da Boa Vista, região central do Recife, até 2017.
Localizado na Rua Velha, uma das mais tradicionais do Centro, o Mundo Novo funcionou no casarão 307 por dois anos, reunindo experimentos musicais e audiovisuais com eventos de invenção e intervenção em uma das áreas mais necessitadas de atenção por parte do poder público e da própria sociedade.
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Marcada pelo descaso com o casario histórico e povoando o noticiário com constantes desabamentos, a Rua Velha perdeu, também, este nicho de novidade e fôlego artístico que insistia em transformar a localidade em um lugar movimentado e de resistência cultural.
Foi através de um comunicado no Facebook que um dos idealizadores do Mundo Novo, o produtor e músico Guilherme Matos, anunciou o fechamento das portas da casa, pegando realizadores e o público de surpresa.

“Demos oportunidades a diversos artistas, bandas, Djs, Vj’s poderem expor sua arte, produzir cultura, música e diversão. Na rua chamada Velha, um Mundo Novo surgiu”, disse Guilherme na ocasião.
O Mundo Novo, além de ser aberto a apresentações e shows, foi palco para gravações de clipes e filmes de longa e curta-metragem. Artistas de diversas vertentes passaram e produziram material no local, entre eles Erica Natuza, Gustavo Pontual, Trindade Dub, Saga HC e Catarina Dee Jah.
“Ocupamos um espaço que estava morto no Centro da cidade, construindo um verdadeiro inferninho da Boa Vista” completa ele.
Ocupar é revitalizar

A Rua Velha surgiu após a construção da Ponte Velha pelos holandeses durante seu domínio em Pernambuco (1630-1654) e faz parte da Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural (ZEPH), criada pela Prefeitura do Recife em 2014.
A discussão sobre a preservação desta parte história e “morta” do Centro não é novidade. Por esse motivo, diversos movimentos culturais e empreendimentos tentam revitalizar a área, por meio da ocupação simbólica, promovendo eventos nessa região que engloba, também, o Pátio de Santa Cruz e o Mercado da Boa Vista.

“Eu vinha acompanhando toda a movimentação de ressurgimento cultural da área, com o intuito de descentralizar os espaços para além do Recife Antigo. Criou-se uma relação de resistência, pois os bares do entorno dialogavam e se programavam em parceria para não deixar o movimento cair”, explica Matos em conversa com o canal Coração da Cidade.
O giro do Mundo Novo

Questões da rentabilidade do projeto e divergência de interesses entre os sócios do Mundo Novo e o proprietário do imóvel foram os pontos decisivos para que a Rua Velha perdesse seu foco de juventude.
O contrato de dois anos de aluguel não pode ser renovado, dentre outros motivos, pelo interesse demonstrado por parte de uma empresa vizinha em tornar o local seu depósito anexo.
“O proprietário da casa preferiu alugar à empresa. Não quis trocar o certo pelo duvidoso”, diz Guilherme. E assim, este ciclo do Mundo Novo chegaria ao fim.

Guilherme atualmente vem se dedicando à produção musical da banda Bantus Reggae, na qual também é músico.
Sobre um possível retorno das atividades do Mundo Novo, ele conta que já recebeu propostas de transformar a marca em um evento itinerante, mas que nada ainda se concretizou.

“O Mundo Novo gira e, por enquanto, não temos data nem local definido para um retorno, mas tudo pode acontecer. E quem sabe há uma explosão cósmica e teremos um Mundo Novo melhor, com mais amor!”, finaliza.
Por Manuel Borges
Jornalista matuto que trocou o gosto da cana pelo cheiro do mangue. Adora passear por locais, histórias, cultura, picos/festas/bares, personalidades e humor sempre tendo o Centro, o coração da Cidade do Recife, como tema. Instagram: @manecoborges.
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